A busca por ancestrais acadêmicos às vezes traz boas surpresas. “Fiquei surpreso ao descobrir que sou descendente acadêmico do matemático e físico Isaac Newton”. A descoberta veio ao utilizar o Mathematics Genealogy Project, criado em 1997, um dos mais antigos repositórios de genealogia acadêmica. Um serviço do Departamento de Matemática da North Dakota State University, o projeto reúne registros que datam do século XIV e abrangem mais de 200 mil doutorados em matemática e áreas afins [\url{https://genealogy.math.ndsu.nodak.edu/}, \url{https://arxiv.org/abs/2108.04943}].
Para chegar a Newton, comecei com meu orientador, João Pedro Braga, professor da UFMG, em Belo Horizonte. Descobri que há 11 graus de separação entre mim e Newton, além de vários ganhadores do Prêmio Nobel.
Fiz minha árvore genealógica científica — a linhagem de orientadores — usando como referência [https://www.mathgenealogy.org/id.php?id=42016].
Fui orientado no doutorado pelo professor João Pedro Braga, que fez doutorado na Inglaterra sob a orientação de John Murrell (1932-2016)\footnote{chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.uc.pt/site/assets/files/1215957/jmurrel.pdf}.
John Murrell obteve seu doutorado em 1980 na Universidade de Sussex. Foi um pesquisador britânico nas áreas de química e física, conhecido por seu trabalho relacionado à teoria de colisões e mecanismos de reação química. Em particular, Murrell escreveu sobre temas envolvendo dinâmica molecular e colisões atômicas e moleculares. Seu trabalho contribuiu significativamente para a compreensão de como as moléculas interagem em colisões e como essas interações afetam as reações químicas.
Dentre seus orientandos, destacam-se Harold Kroto, Bosanac e Varandas. Kroto recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1996 por sua co-descoberta dos fulerenos.
O professor Murrell foi orientado por Hugh Christopher Longuet-Higgins (1923-2004)\footnote{chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://royalsocietypublishing.org/doi/pdf/10.1098/rsbm.2006.0012}. Longuet-Higgins fez seu doutorado na Universidade de Oxford em 1947, com a tese “Some Problems in Theoretical Chemistry by the Method of Molecular Orbitals”. Além de Murrell, Longuet-Higgins orientou Peter Higgs (1929–2023) no King’s College London. Higgs, ganhador do Prêmio Nobel de Física em 2013, propôs, em 1964, o mecanismo de Higgs, que explica como as partículas elementares adquirem massa por meio do campo de Higgs, levando à previsão da existência do bóson de Higgs.
Longuet-Higgins foi aluno de doutorado de Charles A. Coulson (1910-1974)\footnote{https://doi.org/10.1098/rsbm.1974.0004}, que obteve seu doutorado na Universidade de Cambridge em 1936. Coulson foi um matemático e químico teórico britânico, reconhecido por suas contribuições à química quântica e à teoria das ligações químicas. Seu livro influente “Valence” (1952) consolidou a teoria da valência em termos de mecânica quântica.
Coulson foi orientado por John Lennard-Jones (1894-1954)\footnote{https://doi.org/10.1098/rsbm.1955.0013}, que desenvolveu a Teoria das Orbitais Moleculares e realizou o primeiro cálculo SCF para H2. Lennard-Jones fez seu doutorado na Universidade de Cambridge em 1924.
Lennard-Jones e Paul Adrien Maurice Dirac (1902-1984) (ganhador do Prêmio Nobel de 1933) foram orientados por Ralph Howard Fowler (1889-1944), que defendeu seu doutorado em 1915. Dirac é considerado um dos maiores cientistas do século XX, amplamente reconhecido por suas contribuições fundamentais à mecânica quântica e à teoria quântica de campos.
Fowler foi orientado por Ernest Rutherford (1871-1937), que obteve seu doutorado na Universidade de Cambridge em 1895, com o tema “Magnetization of Iron by High-Frequency Discharges”. Em 1911, Rutherford, juntamente com Hans Geiger e Ernest Marsden, conduziu o famoso experimento de dispersão de partículas alfa, que revelou a estrutura nuclear do átomo.
Rutherford foi orientado por Joseph John Thomson (1856-1940), que obteve seu doutorado na Universidade de Cambridge em 1883. Thomson é famoso por sua descoberta do elétron, a primeira partícula subatômica identificada.
Thomson foi orientado por John William Strutt, Lord Rayleigh (1842-1919), que recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1904 por sua descoberta do argônio.
Lord Rayleigh teve como orientadores George Gabriel Stokes e James Clerk Maxwell.
Maxwell (1831-1879) foi um físico e matemático escocês, conhecido por formular as equações de Maxwell, que descrevem a eletricidade e o magnetismo. Stokes (1819-1903) foi um matemático e físico irlandês, conhecido por suas contribuições na dinâmica de fluidos e óptica. Ambos foram orientados por William Hopkins (defendeu em 1830), que, por sua vez, foi aluno de Adam Sedgwick (defendeu em 1811).
Adam Sedgwick foi orientado por Thomas Jones (defendeu em 1782), que foi aluno de Thomas Postlethwaite (defendeu em 1756).
Postlethwaite foi orientado por Stephen Whisson (defendeu em 1742), que foi orientado por Walter Taylor (defendeu em 1723).
Walter Taylor foi orientado por Robert Smith (defendeu em 1715), que foi orientado por Roger Cotes (defendeu em 1706), que, finalmente, foi orientado por Isaac Newton.
Isso mesmo, Isaac Newton!
Newton foi um dos maiores cientistas da história e desenvolveu o Cálculo Integral e Diferencial entre 1665 e 1666, durante seu isolamento devido à peste bubônica. Embora não tenha escrito um livro exclusivamente sobre cálculo, ele introduziu conceitos fundamentais da área em sua obra “Principia”, onde formulou suas leis do movimento e a teoria da gravitação universal, utilizando a geometria clássica da época.
Embora Newton tenha feito descobertas maravilhosas, demorou para publicar seus resultados. Seus conceitos foram disseminados por intermédio de manuscritos e notas que só ganharam publicação formal mais tarde.